"Arte existe porque a vida não basta"
Ferreira Gullar
Inauguro essa coluna neomarginal dedicada à transmissão de meus conhecimentos cultivados através de inúmeras combinações perceptivas acerca da arte como campo de pesquisa, do fazer e da vida. Na síntese, irei compartilhar com vocês minhas cognições como artista visual, curadora, historiadora, restauradora, crítica de arte e o mais importante; como Ira Rebella. São anos de paixão, obsessões, angústias, maravilhamentos, epifanias, incertezas, vontades, descobertas, surpresas, frustrações, dores físicas e emocionais, alegrias, satisfações, estranhamentos, terrores, rebeldias, belezas, mentiras, verdades e acima de tudo; de muita magia.
Tudo isso como “beautiful colous, made of tears” (“lindas cores feitas de lágrimas”), segundo Lou Reed na música emblemática e obscura “Venus in Furs” da consagrada e subterrânea banda “The Velvet Underground”.
Mas retomando o foco aqui, o que é cognição para sua cognição?
A definição universal generalista da palavra significa ‘processo ou faculdade de adquirir um conhecimento, uma percepção’. Nosso cérebro percebe, aprende, recorda e pensa o que é captado através dos cinco sentidos concomitantemente aos processamentos das nossas memórias.
Considero a cognição como um fenômeno aparelhado do ser humano que está em constante interação com o meio externo e interno, buscando sintonizar os sentidos das coisas que habitam o âmbito “ser-no-mundo”, ou a existência.
Mas onde está a arte em meio esse ‘bololô’ de conceitos?
Arte não se define, se estuda incessantemente, se experimenta, assim como a vida. Mas precisamos nesse momento ‘dar as mãos’ para o formalismo da história e da sociedade, onde o verbo como uma muleta nos ajuda a andar pelo caminho das palavras que como as pedras constroem monumentos à sua maneira. O ser humano não é uma pedra, e também constrói à sua maneira, mas adicionado à ideia do “fazer consciente” em prol de ideais de beleza, de harmonia, como forma de expressão da subjetividade dirigida para uma finalidade prática ou teórica, eis que surge a ARTE.
O que sobra dessa alquimia?
Ouso dizer: o incógnito.
Mas que ironia, uma coluna dedicada à cognição vai terminar na incognitiva?
Sim...e não.
Como um olho que emerge das profundezas do desconhecido, transbordante, à deriva, assustado, imerso no caos das lentes de vidro, plástico, acrílico, “parafernalíticas’ em conflito com raízes, rizomas, veias, ladrilhos e repetições em série auto produtivas e promotoras nos celulares e células da contemporaneidade, como anda a sua cognição?
Busco na arte abstrata, expressionista, o exercício da cognição constante onde o experimentalismo é o corpo que sustenta o olhar que tenta enxergar com intensidade a importância da pintura e do corpo humano como força primordial e contínua do novo fazer artístico. Onde massas de tintas possam retirar o véu de maia das ilusões de nossas retinas, revelando significados do oculto e testemunhando a pequenez da existência humana, deglutindo, todavia, ideais de belo e de arte/vida aprisionantes e deveras distantes das margens sociais.
Ira Rebella nasceu em 1987, São Paulo, capital, e também morou por 3 anos em Hilversum, na Holanda, e 1 ano em Santander, na Espanha, experiências e referências que contribuíram com a riqueza de seu repertório criativo.
Autodidata, pintou seu primeiro quadro aos 19 anos, e posteriormente graduou-se pela PUC-SP em dois cursos: "Tecnologia de Conservação e Restauração de Patrimônios Históricos e Bens Culturais" (2012), e "História, Curadoria, e Crítica de Arte" (2016);
A artista assume uma postura experimentalista, característica do hibridismo da arte contemporânea. A construção conceitual de sua poética conecta-se com expressionismo, abstracionismo e ao surrealismo, passando por diversas formas de expressão, tais como a pintura, desenho, colagens, poesia e instalações, com temáticas imersas em simbolismos, magia, oculto, acaso, mistérios do inconsciente, tratando das vivências ritualísticas acerca da realidade em que vivemos.
instagram: https://www.instagram.com/ira.rebella/
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