Santiago Haber Ahumada é poeta argentino
tradução: Vitor Miranda
em uma pesquisa por poetas contemporâneos argentinos encontrei esse poema de Santiago Haber Ahumada e desde então me pergunto para que serve a linguagem. ousei, com todo meu despreparo, traduzir o poema aqui na revista neomarginal como uma homenagem ao trabalho do poeta hermano e levar a beleza de seu poema para mais leitores. coloco aqui primeiro a tradução e na sequência o poema no original. apreciem.
De que me serve esta língua
de que me serve
esta língua
se apenas imprime
letras em um papel
que serve somente
para queimar a casa
onde nunca
podemos viver
de que me serve
esta língua
se apenas diz
o que todos querem
que diga
de que me serve
esta língua
se não posso fazer
que o sol
entre pela janela
e queime
as bitucas de cigarro
que ninguém vai jogar fora
de que me serve
esta língua
se não posso fazer
que volte
ou que deixe de voltar
e te vá para sempre
de que me serve
esta língua
se não chega
a cessar as lágrimas
que caem
de que me serve
esta língua
se não posso gritar
revolução
sem reviver
os mortos que vivem
nela
de que me serve
esta língua
se não a posso tragar
agora mesmo
e sacar-me
toda essa vida
de que me serve
esta língua
se essa noite
não sou feliz
de que me serve
esta língua
se não posso
mudar o mundo
com ela
de que me serve
esta língua
se poderia cortar-me
e cairia ao chão
como um pedaço de carne
qualquer
de que me serve
esta língua
se não sabe
dizer
o que quero que diga
de que me serve
esta língua
se não descansa
na tua
de que me serve
esta língua
se tudo o que digo
já foi dito
melhor mais forte
e mais bonito
de que me serve
esta língua
se não posso trazer
o passado
sem dizer vestígio
de que me serve
esta língua
se apenas chupa
meus dentes cerrados
de que me serve
esta língua
se não deixa de
oscilar
entre o infame
e o artificial
de que me serve
esta língua
se lá fora
ainda
chove caos
e te vi
De qué me sirve esta lengua
de qué me sirve
esta lengua
si solo imprime
letras en un papel
que solo sirve
para quemar la casa
en donde nunca
pudimos vivir
de qué me sirve
esta lengua
si solo dice
lo que todos quieren
que diga
de qué me sirve
esta lengua
si no puedo hacer
que entre
el sol por la ventana
que queme
las colillas de cigarros
que nadie va a tirar
de qué me sirve
esta lengua
si no puedo hacer
que vuelvas
o que dejes de volver
y te vayas para siempre
de qué me sirve
esta lengua
si no llega
a atajar las lágrimas
que caen
de qué me sirve
esta lengua
si no puedo gritar
revolución
sin revivir
los muertos que viven
en ella
de qué me sirve
esta lengua
si no la puedo tragar
ahora mismo
y sacarme
toda esta vida de encima
de qué me sirve
esta lengua
si esta noche
no sos feliz
de qué me sirve
esta lengua
si nadie pudo
cambiar el mundo
con ella
de qué me sirve
esta lengua
si podría cortármela
y caería al piso
como un pedazo de carne
cualquiera
de qué me sirve
esta lengua
si no sabe
decir
lo que quiero que diga
de qué me sirve
esta lengua
si no descansa
en la tuya
de qué me sirve
esta lengua
si todo lo que digo
ya fue dicho
mejor más fuerte
y más grande
de qué me sirve
esta lengua
si no puedo traer
el pasado
sin decirle vestigio
de qué me sirve
esta lengua
si solo chupa
mis dientes apretados
de qué me sirve
esta lengua
si no deja de
oscilar
entre lo infame
y lo artificial
de qué me sirve
esta lengua
si afuera
todavía
llueve caos
y te vi
Vitor Miranda é poeta escritor fotógrafo autor de alguns títulos publicados, o último deles: Exátomos instagram de Santiago Haber Ahumada: https://www.instagram.com/santihaber/ instagram de Vitor Miranda: https://www.instagram.com/vitorlmiranda/
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