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  • Cezar Torres

Onde está minha voz


(foto: Vitor Miranda)


Onde está minha voz? Houve um tempo que buscava por ela por todos os cantos, falando, escrevendo, nos sinais encontrados aleatoriamente no cotidiano. Encontrei muitas vozes, que falavam com eloquência, mas nenhuma de fato era a minha. Sei disso pela curta duração de suas falas, que muitas vezes nem chegaram a ser verbalizadas. Algumas nasciam e morriam num mesmo verso, sem chegarem a ver o desfecho a que se prestaram. Outras não chegaram a sair do pensamento.


Seria a busca por essa voz um caminho sem destino definido? Com o passar dos dias vi-me deixando essa busca de lado e incorporando a voz do cotidiano, que tem me satisfeito deveras, por ora. O cotidiano tem uma beleza sublime pela realidade encontrada nos detalhes corriqueiros. Estive por muitos cantos procurando a beleza na harmonia monumental de obras de arte consagradas, na grandiosidade. Não posso dizer que aí não existe beleza, pois isso seria um disparate. O comum, no entanto, é o que me atrai. O comum é real, tem substância, cheiros, sabores, imperfeições.


Não posso acreditar numa vida inteira de admiração pela beleza exterior, na busca pela perfeição. Esse seria um caminho demasiado pobre, idealizar algo que está longe de mim, inalcançável. Mesmo para a poesia, para a arte das palavras, criar um paraíso que só se encontra após a morte me parece insatisfatório.


Onde então está minha voz cotidiana, verdadeira? Aquela que vai de encontro ao detalhe presente, que encontra o caminho em meio ao turbilhão de informações que compõem o agora. Essa busca talvez não tenha fim, o desafio então é descobrir antes quem ou o que sou eu em meio a isso.


No comum encontro o alento, no alento encontro a tranquilidade, na tranquilidade encontro o silêncio. Como é gostoso desfrutar do silêncio.



Cezar Torres é um musico compositor londrinense que transita nas paisagens sonoras do cotidiano na incessante busca pelo desconhecido literário, musical.

Em 2016 lançou o álbum Lobisomem, em 2020 Sujeito-Além: Animal Arguto e em 2023 iniciou Surtos Controlados, projeto multidisciplinar que envolve a música, literatura e artes plásticas.



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