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  • Foto do escritorVitor Miranda

Toninho de Barão Geraldo



o famoso bairro de Barão Geraldo onde fica a Unicamp em Campinas leva o nome do fazendeiro que está enterrado na rua principal do Cemitério da Saudade. o túmulo da família em pedra branca gasta e com pouca visibilidade para os nomes fica ao lado de um túmulo de muita devoção. placas e mais placas de devotos agradecendo as graças de Toninho encobre da lápide ao chão.



a imagem de uma entidade negra de cabelos grisalhos surpreende pela época logo após a lei Áurea onde a fotografia era algo para gente rica.


Toninho morre em 13 de março de 1904, segundo relatos.


uma moça se aproxima ao túmulo e nele toca sua mão e faz uma prece. aguardo e pergunto a história de Toninho.


- ele era um escravo do Barão Geraldo que está enterrado aqui ao lado.

- ah é? e por que?

- dizem que é culpa.

- e qual o motivo da devoção?

- você não é de Campinas, né?

- sou não, moça.

- era uma sexta-feira santa quando Toninho recusou trabalhar. disse que era dia de Deus e não de trabalho.

- e então?

- e então que Barão mandou açoitar Toninho que acabou morrendo.

- poxa… o bairro deveria se chamar Toninho então.

- pois é, menino.

- por isso as pessoas são devotas a ele?

- ele já atendeu a muitas graças.

- já atendeu as suas?

- sim! mais de uma vez. e também tem a história do boi falô.

- ah é.

- é, você não conhece?

- conheço não.

- pois procure na internet.


na internet diz que Barão Geraldo tinha muita estima e amizade por Toninho e que desejou enterrá-lo junto com a família, mas o pegou mal na sociedade da época, então Toninho ficou seu lado na rua principal.


Toninho foi alforriado antes da lei Áurea. relatos dizem que continuo trabalhando para o Barão como cocheiro e os bons serviços renderam o direito à mórbida vizinhança.


quem não quis trabalhar, segundo pesquisas virtuais, foi o boi, o que falou. Toninho foi encilhar o boi, numa sexta-feira santa, e o boi teria dito:


- hoje é dia de santo, não é dia de trabalho.


assustado, Toninho correu gritando o que o boi falou. o capataz quis castigá-lo no açoite, mas Barão interviu pela pele do funcionário.


histórias e estórias que o povo conta que daria uma boa prosa da mais alta literatura, feito a conversa de bois de João Guimarães Rosa.





Vitor Miranda é poeta e fotógrafo. autor de alguns títulos publicados, os dois últimos: O que a gente não faz para vender um livro? e Exátomos.


instagram: https://www.instagram.com/vitorlmiranda/ contribua com o autor através do pix: 36768244825

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