o famoso bairro de Barão Geraldo onde fica a Unicamp em Campinas leva o nome do fazendeiro que está enterrado na rua principal do Cemitério da Saudade. o túmulo da família em pedra branca gasta e com pouca visibilidade para os nomes fica ao lado de um túmulo de muita devoção. placas e mais placas de devotos agradecendo as graças de Toninho encobre da lápide ao chão.
a imagem de uma entidade negra de cabelos grisalhos surpreende pela época logo após a lei Áurea onde a fotografia era algo para gente rica.
Toninho morre em 13 de março de 1904, segundo relatos.
uma moça se aproxima ao túmulo e nele toca sua mão e faz uma prece. aguardo e pergunto a história de Toninho.
- ele era um escravo do Barão Geraldo que está enterrado aqui ao lado.
- ah é? e por que?
- dizem que é culpa.
- e qual o motivo da devoção?
- você não é de Campinas, né?
- sou não, moça.
- era uma sexta-feira santa quando Toninho recusou trabalhar. disse que era dia de Deus e não de trabalho.
- e então?
- e então que Barão mandou açoitar Toninho que acabou morrendo.
- poxa… o bairro deveria se chamar Toninho então.
- pois é, menino.
- por isso as pessoas são devotas a ele?
- ele já atendeu a muitas graças.
- já atendeu as suas?
- sim! mais de uma vez. e também tem a história do boi falô.
- ah é.
- é, você não conhece?
- conheço não.
- pois procure na internet.
na internet diz que Barão Geraldo tinha muita estima e amizade por Toninho e que desejou enterrá-lo junto com a família, mas o pegou mal na sociedade da época, então Toninho ficou seu lado na rua principal.
Toninho foi alforriado antes da lei Áurea. relatos dizem que continuo trabalhando para o Barão como cocheiro e os bons serviços renderam o direito à mórbida vizinhança.
quem não quis trabalhar, segundo pesquisas virtuais, foi o boi, o que falou. Toninho foi encilhar o boi, numa sexta-feira santa, e o boi teria dito:
- hoje é dia de santo, não é dia de trabalho.
assustado, Toninho correu gritando o que o boi falou. o capataz quis castigá-lo no açoite, mas Barão interviu pela pele do funcionário.
histórias e estórias que o povo conta que daria uma boa prosa da mais alta literatura, feito a conversa de bois de João Guimarães Rosa.
Vitor Miranda é poeta e fotógrafo. autor de alguns títulos publicados, os dois últimos: O que a gente não faz para vender um livro? e Exátomos.
instagram: https://www.instagram.com/vitorlmiranda/ contribua com o autor através do pix: 36768244825
Comments