top of page
  • Foto do escritorVitor Miranda

Yan Boechat e os Guarani-Kayowá e o cigano da Casa Barco


(foto: Vitor Miranda)

 

o Documentos Urbanos encerrou as atividades após uma crise na relação. amizade é utopia, digamos assim. cometi equívocos profissionais e jovens não sabem lidar com egos.

estava sozinho no mundão com uma câmera na mão. fiz cursos no senac de fotografia, iluminação, edição e caí no jogo. com o portfólio do Documentos Urbanos comecei a descolar uns trampos de fotografia e vídeo. os primeiros foram horríveis, só cagadas. mas fui evoluindo.

em um deles, pra uma loja pet, conheci um fotojornalista, Rodrigo, que estava fazendo um documentário sobre os índigenas Guarani-Kayowá. à época estava ocorrendo um genocídio dos povos Guarani-Kaiowá e o Rodrigo me ligou lá do Mato Grosso do Sul.

 

- Vitor, tudo bem? rapaz, você não cobriria a manifestação dos Guarani-Kayowá no MASP para o meu documentário?

- claro, vamos lá.

- seguinte, tem um jornalista amigo meu lá fazendo vídeos. preciso que você faça fotos.

 

chegando lá encontrei o amigo jornalista, Yan Boechat.

 

- e aí, bicho, tudo certo?

- beleza!


Yan era jornalista de texto sobre economia, mas apaixonado por fotografia e tinha ali um diferencial no jornalismo. era tão bom fotógrafo quanto no texto. se encontrava no momento em liberdade de trabalhador freelancer. na crise existencial e econômica do jornalismo entrou na lista das demissões do portal IG, onde era repórter especial de economia. ao fazer uma matéria com o chefe da administração do porto de Santos, descobriu uma favela localizada dentro do porto e foi lá fazer uma matéria. ganhou o prêmio jornalístico Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. mas essa história fica para um próximo capítulo. https://premiovladimirherzog.org/um-navio-estacionado-na-porta-de-casa/

 

contei pra ele da minha rara experiência no jornalismo independente com os Documentos Urbanos e ficamos por ali entre takes, fotos e aquelas lorotas jornalísticas.

 

no meio do ato registrei fotos que até hoje são tão presentes aos meus olhos e que a mim é o retrato do povo brasileiro.



 conhecemos uma jornalista com quem ficamos a prosear e que foi embora de metrô junto comigo até a Vila Madalena onde havia deixado meu carro, um golzinho geração dois.


- bóra tomar uma cerveja e continuar o assunto?

 

no boteco do outro lado da rua conversamos sobre política e caímos na Argentina, país ao qual tinha uma relação estreita devido a um relacionamento à distância e duas visitas recentes.

 

- desculpe, mas posso opinar na conversa?

 

um cigano da mesa ao lado pediu a palavra e intrometido ao assunto nos colocou sua opinião sobre as circunstâncias políticas argentinas. era o Capitan Pablo Nomás, comandante da futura naufragada Casa Barco que fez história na marginalidade artística da metrópole virtual.


- bóra estender essa conversa lá na Casa Barco e fazer um som.

- eu não toco, mas posso fotografar, de repente.

 

a jornalista declinou e zarpou. na casa barco encontramos com outras pessoas. alguns músicos moradores. os violinos dançavam ali naquela sala quarto onde a cama do cigano apoiava-se a uma porta daquelas de bar que sobem enrolando-se. a casa localizada numa bifurcação da Vila Anglo Brasileira era o Titanic de uma nação que iniciava seu naufrágio. jamais sairíamos da neomarginalidade. a rua de cima subia e a de baixo descia. uma escada nos levava aos andares do convés e da laje, mas também nos descia ao porão onde um dia conheceria Heron Coelho.

 

aquela casa serviria de abrigo às inúmeras metamorfoses da banda Teko Porã e estaria por ali algumas vezes com alguns personagens ilustres da neomarginália paulistana.





Vitor Miranda é poeta, fotógrafo, videomaker e editor dessa revista neomarginal

Comments


bottom of page